É quase impossível pensar na Era Medieval sem lembrar dos cavaleiros, figuras cujos bravos feitos, em especial as lutas com espadas, foram retratados em poemas, pinturas e lendas, sendo até hoje a fonte de inspiração para várias obras literárias, filmes e séries.
Porém, as representações que vemos no cinema e na TV estão longe de serem corretas, pois muitas informações básicas sobre esta antiga técnica de combate foram perdidas durante os séculos, tornando-se um verdadeiro mistério que intriga estudiosos até hoje.
Empenho, dinheiro e muito sangue
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Ser reconhecido como um cavaleiro envolvia muito mais do que ter uma bela armadura e um cavalo confiável, sendo preciso longos anos árduos de treinamento, muitas vezes desde a infância, para atingir o patamar de um verdadeiro mestre espadachim.
Além disso, os gastos relacionados não eram pequenos, seja para o treinamento com os grandes mestres, que sabiam muito bem o valor das técnicas que estavam transmitindo para seus discípulos, seja para se ter uma arma.
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“Até mesmo a fabricação de uma espada pequena exigia uma incrível quantidade de aço. O imenso custo significava que não era apenas ter uma arma e dizer, 'bem, vou sair agora e espetar alguém. Você não iria querer danificá-la'”, explicou Richard Scott Nokes, professor de literatura medieval da Universidade Troy, no Alabama, Estados Unidos.
Então, as lições aprendidas envolviam mais como sobreviver a qualquer custo e finalizar o oponente rapidamente do que fazer uma luta nobre e cheia de honra, com os livros restantes atualmente especializados nessas técnicas apresentando golpes com nomes como “enforcamento duplo” ou o singelo “esmaga crânios”.
Informações imprecisas
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Porém, mesmo com esses manuais remanescentes, compreender com precisão as informações que seus autores queriam explicar não é uma tarefa fácil.
Outro detalhe é que é muito difícil decifrar qual dos dois guerreiros está vencendo na ilustração, ou até mesmo com que frequência o movimento apresentado realmente era viável durante um confronto.
A outra razão envolve o fato de muitos textos serem escritos como poesia, contando com versos tão obscuros que se transformaram em verdadeiros enigmas, e mesmo quando é possível compreender o que está sendo descrito, diversos estudiosos ainda acreditam que estão faltando informações básicas.
“Na maior parte das vezes, não é tanto questão de não conseguir entender o que está escrito, mas sim que existem quatro ou cinco possibilidades do que possa ser. E, às vezes, elas não fazem sentido”, explicou Jamie MacIver, instrutor de luta de espadas e ex-presidente do Clube de Esgrima Histórica de Londres.
Desvendando na prática
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Por mais que os cavaleiros tenham chegado ao seu ápice na era medieval, combates com espada ainda continuaram em alta por séculos, especialmente quando essas armas brancas se tornaram basicamente um artigo de moda no século XVI. Entretanto, as técnicas antigas já estavam em declínio desde então, com os golpes utilizados pendendo mais para a esgrima moderna.
Atualmente, os principais envolvidos nas tentativas de compreender a arte do combate dos cavaleiros são artistas marciais, que utilizam seu tempo livre para estudar e traduzir antigos livros de luta, testando com segurança possíveis versões dos movimentos para depois apresentá-los à comunidade de entusiastas ou utilizá-los em competições de Artes Marciais Históricas.
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“É muito satisfatório quando você está em um torneio e faz algo que remonta a um livro escrito 500 anos atrás”, disse MacIver.
Embora o caminho seja árduo, envolvendo uma boa dose de tentativas, erros e muitos hematomas, os entusiastas não pretendem desistir de seus estudos, acreditando que os antigos mestres aprovariam seus esforços em revelar os segredos perdidos com o passar dos anos.
E por mais que ainda haja muito o que aprender, tudo o que já foi revelado nos ajuda a compreender melhor os cavaleiros e suas formas reais de combate, trazendo mais contexto histórico para essas figuras “heroicas” e os mitos que populam a tanto tempo a imaginação de muitos.