quarta-feira, 25 setembro 2024
- Publicidade -
29 C
Nova Olímpia
- Publicidade -
abaixo de ultimas notícias

A pior Olimpíada de todos os tempos aconteceu em 1904 nos EUA, quando um carro venceu uma maratona

Maratona contou com carona de carro, falta de água e até comida intoxicada

Os Jogos Olímpicos de Paris de 2024 estão com diversos problemas, como a poluição do rio Sena e as muitas reclamações de estrutura, transporte e comida na Vila Olímpica. Mesmo com tudo isso, não há nada que se compare com os absurdos que aconteceram nas Olimpíadas de Verão 1904, realizadas em Saint Louis, nos Estados Unidos.

A Feira veio primeiro

Esses Jogos Olímpicos de 1904 foram realizados no contexto da Feira Mundial de St. Louis, que comemorou o centenário da Compra da Louisiana. Na verdade, Chicago foi originalmente a cidade escolhida como sede, mas os organizadores da feira pressionaram para transferir os jogos para sua cidade usando toda a sua influência e a magnitude do evento global.

Embora a cidade não fosse grande, tinha poder porque concentrava o comércio de algodão e mantinha forte atividade comercial. O COI (Comitê Olímpico Internacional) acabou aceitando a candidatura com o apoio e eleição do presidente Roosevelt. A combinação da Olimpíada com a feira pretendia atrair mais visitantes e dar maior destaque ao evento desportivo. Mas não aconteceu como eles pensavam, muito pelo contrário.

Maratona de 1904 foi uma espécie de Jogos Vorazes (Imagem: Wikimedia Commons / Missouri History Museum)

Estes foram os primeiros Jogos realizados fora da Europa, os primeiros onde a língua inglesa foi maioritária e os primeiros onde foram atribuídas as medalhas de ouro, prata e bronze aos melhores classificados. Também contaram com a estreia de boxe e luta livre. No total, participaram 651 atletas (apenas seis mulheres) de até 12 países.

Embora houvesse um bom número de atletas, apenas 42 eram de fora dos Estados Unidos. A razão? No Velho Continente não parecia haver muito interesse em cruzar o oceano Atlântico e sair da Europa pela primeira vez. O que no final acabou sendo uma decisão mais do que acertada. Não só pelo caos que aconteceu, mas também por conta da duração: foram quase cinco meses de Olimpíada (de 1º de julho até 23 de novembro).

O racismo antes das competições

Embora algumas marcas tenham ficado nos anais da história olímpica (Archie Hahn venceu diversas categorias de atletismo com um recorde que durou quase três décadas), a verdade é que o evento ficou marcado como o pior em todos os sentidos. Houve uma segregação racial no desfile de inauguração sob o título de Dias Antropológicos. Como? Mostrando integrantes de raças “supostamente inferiores” que iriam disputar provas paralelas (e sem inscrição oficial).

Dias Antropológicos foi um evento racista em paralelo às Olimpíadas de 1904 (Imagem: Wikimedia Commons)

Neste sentido, foram dois dias em que o evento obrigou aqueles que os Estados Unidos consideravam “seres primitivos” (africanos negros ou índios) a competir em “disciplinas” como o lançamento de lanças ou arcos de cada “tribo”. O motivo era duplo: foi feita uma tentativa de ridicularizar e demonstrar a superioridade física e moral da cultura anglo-americana. Um fato lamentável na história do desporto que o COI tem tentado erradicar desde então, informa o Xataka.

O caos de uma maratona incomparável

Muitas coisas aconteceram nos Jogos, mas se nos atermos ao aspecto estritamente esportivo, houve um antes e um depois nas Olimpíadas após a realização da maratona. É praticamente certo dizer que nunca houve tantas ilegalidades, trapaças, ataques a pessoas e, em geral, um sentimento tão antidesportivo na história dos Jogos Olímpicos. Havia muito pouco, ou até mesmo nenhum, vestígio de profissionalismo.

A maratona de 40 quilômetros contava com 32 atletas (representando apenas quatro nações) e foi relizada sob um calor de 32º às 15h (horário local). O percurso começou e terminou no mesmo estádio, mas, ao contrário das corridas que vemos hoje, lá fora era literalmente a “selva”: um cross country sem estradas de asfalto onde eles tiveram que cruzar sete colinas ao longo das planícies do Missouri ao longo de ruas cheias de poeira.

Cenário da maratona ao sair do estádio (Imagem: Wikimedia Commons)

Para piorar, os carros que acompanhavam a prova acabavam levantando muita poeira, dificultando ainda mais o percurso. Em vez de muitos pontos de hidratação, o que aconteceu foi justamente o contrário, havia apenas um ponto de apoio com água. Aparentemente, James Sullivan, o principal organizador dos Jogos, fez isso deliberadamente para uma pesquisa. Ele queria ver os efeitos da ingestão mínima de líquidos e da desidratação nos candidatos, testando seus limites e resistência.

Nessas condições, o teste começou a se tornar uma missão impossível. Os homens, muitos simplesmente “atletas por um dia”, começaram a desmaiar e cair nos arredores do estádio. Quem conseguia acompanhar sabia que o objetivo era uma utopia sem algum tipo de ajuda. Alguns pararam para comer e foram intoxicados, outros, como o sul-africano Taunyane, correram sem problemas até que, “por acaso”, um grupo de cães selvagens o perseguiu.

O “ganhador” pegou uma carona de carro

E entre todos os “atletas”, o “espertinho” da turma, foi o americano Fred Lorz. Ele tinha caído após 14 quilômetros e seu treinador o buscou de carro para levá-lo de volta ao estádio. No caminho, o carro quebrou e Lorz teve a ideia de finalizar as partes finais do percurso como se não tivesse pegado uma carona por vários quilômetros.

Fred Lorz venceu a maratona após pegar uma carona de carro (Imagem: Wikimedia Commons)

Os últimos metros de Lorz ficaram na história da mais absoluta vergonha, já que no seu “caminho” para o glória, ele cumprimentava e acenava para o público. A cerimônia de premiação também foi um marco. Fred Lorz subiu sorridente até o primeiro camarote e, enquanto cumprimentava o entusiasmado público, a trapaça do atleta foi revelada por uma testemunha.

O pior de tudo foi o cinismo que Lorz reagiu quando a verdade apareceu. Ele até admitiu imediatamente que pegou uma carona de carro, mas acrescentou que fingiu vencer a corrida como “uma piada”. A AAU, o órgão de atletismo amador dos Estados Unidos, proibiu o corredor de competir pelo resto da vida. Por alguma razão, a suspensão foi retirada após ele se desculpar. Fred acabou vencendo a Maratona de Boston no ano seguinte.

O vencedor de verdade

Após a desclassificação de Lorz, o primeiro lugar foi para o americano (mas nascido na Inglaterra) Thomas Hicks. O problema? A 15 quilômetros da linha de chegada, ele havia parado por cansaço. Aparentemente, para trazê-lo de volta à corrida, foram administradas várias doses de sulfato de estricnina com conhaque, um alcalóide que costumava ser usado como veneno para ratos, mas que em pequenas doses estimula o sistema nervoso.

Thomas Hicks sendo ajudado pelos treinadores (Imagem: (Wikimedia Commons: Charles J.P. Lucas)

Ou seja, Hicks estava exausto, dopado e bêbado. Mas como não existiam regras antidoping, sua corrida foi considerada válida e ele foi o vencedor da maratona das Olimpíadas de 1904. Ele estava tão desnorteado que nem se tocou de ir pegar a medalha e foi visto vagando em volta do estádio. Mas as histórias não pararam por aí. Dos 32 participantes da maratona, apenas 14 conseguiram terminar sob tais condições totalmente insalubres.

Perdeu tudo no “tigrinho”

Não podemos terminar a história dos piores Jogos Olímpicos sem dedicar algumas palavras para Felix Carbajal de Soto. Este cubano passou meses perambulando pelas ruas de Havana nas horas vagas em busca de financiamento para participar da maratona. Só que ao chegar nos Estados Unidos, ele perdeu tudo.

Carbajal perdeu os fundos patrocinados apostando em jogos de azar na cidade de New Orleans. Com isso, ele teve que caminhar e pegar caronas até chegar em Saint Louis (cerca de mil quilômetros de distância). O problema é que ele estava apenas com a roupa de corpo: camisa de manga comprida, calça, boina (!!!) e sapatos não adequados para corrida.

Felizmente, um espectador tinha tesouras e cortou parte da camisa e transformou a calça em uma bermuda. A organização tentou impedir a participação de Felix, mas os outros competidores tiveram empatia com a história e pediram para que o cubano fosse liberado para competir na maratona.

de Soto com suas roupas cortadas para correr (Imagem: (Wikimedia Commons / Chicago Historical Society)

Porém, a história de Carbajal de Soto não parou por aí. Com muita fome após estar sem comer desde New Orleans, o cubano decidiu pegar maçãs direto de uma árvore. O problema é que ela ainda estava verde e causou uma intoxicação alimentar que deu dor de barriga no maratonista. Assim, Felix se deitou ao lado da rua e tirou um cochilo. Parcialmente recuperado, ele voltou para a corrida e terminou em quarto lugar.

Com tantos absurdos, muitos duvidavam que a maratona seguiria como esporte olímpico, mas ela esteve presente em Londres, 1908. Apesar de algumas lições aprendidas em Saint Louis, ainda havia a desconfiança que a água era prejudicial aos corredores – mesmo com a experiência anterior mostrando exatamente o contrário.

- Publicidade -
big master

Compartilhe

Popular

Veja também
Relacionados

Já sacou seu dinheiro esquecido? Só faltam 20 dias para ser confiscado

A contagem regressiva para que o BC (Banco Central)...

Confira o caminho dos times do G4 até a taça do Brasileiro

O Brasileiro chega para a sua 28ª rodada com...

Nível das hidrelétricas em setembro é o mais baixo em três anos; conta de luz é impactada

Os reservatórios das hidrelétricas atingiram o menor nível para...
Feito com muito 💜 por go7.com.br