A extinção de espécies de animais e plantas é uma realidade sombria na história da vida em nosso planeta, frequentemente impulsionada pela ação humana e mudanças ambientais. No entanto, em raras e emocionantes ocasiões, a natureza e, por vezes, os esforços dedicados de conservacionistas, revelam uma surpresa: o “ressurgimento de espécies” que foram dadas como perdidas para sempre.
Esses animais, frequentemente rotulados como “extintos na natureza” ou simplesmente “extintos” por décadas, reaparecem, seja por terem permanecido escondidos em refúgios isolados, seja por programas de reintrodução de sucesso. Suas histórias são um poderoso lembrete da tenacidade da vida e da importância contínua da preservação de habitats. Confira alguns exemplos!
1. Takahē

Uma ave terrestre nativa da Nova Zelândia, o takahē, também chamado de tacaé-do-sul (Porphyrio hochstetteri), foi considerada extinta no século 19. O takahē pode chegar a 63 centímetros de comprimento, e possui pernas fortes e bico triangular robusto. As asas são curtas, de forma que ele não consegue voar, mas ainda chama bastante atenção com sua plumagem azul-escuro, turquesa iridescente e verde-oliva, em contraste com a máscara facial vermelha e o bico amarelo.
Um de seus últimos registros foi em 1898, quando se acreditou que a espécie havia desaparecido para sempre; porém, em 1948, um pequeno grupo desta ave foi redescoberto nas montanhas de Murchison, surpreendendo a todos e dando início a um longo programa de conservação.
Em agosto de 2023, 18 exemplares da espécie foram libertados no Vale de Greendstone, marcando finalmente o retorno o takahē ao seu habitat histórico. Em fevereiro deste ano, outras mais de 50 aves foram soltas no Vale de Rees, e mais 18 em Greenstone. Agora, o desafio que as autoridades de conservação enfrentam é de garantir que esses habitats sejam seguros para acomodar o aumento da espécie.
2. Martim-pescador de Guam

Natural da ilha de Guam, no Oceano Pacífico, o martim-pescador de Guam (Todiramphus cinnamominus) foi considerado extinto no fim da década de 1980, após a introdução da cobra-marrom-arborícola (Boiga irregularis) na região, que dizimou toda sua população. Conhecido como sihek pelos indígenas Chamorro, esse pássaro possui uma plumagem marrom nos machos, e peito branco nas fêmeas, ambos com caudas azuis. Eles se alimentam de pequenos animais, e são considerados territoriais.
Felizmente, antes de desaparecerem completamente, 28 indivíduos da espécie foram capturados e mantidos em cativeiro. Foi somente em setembro de 2024 que, pela primeira vez, nove pássaros — cinco machos e quatro fêmeas — foram reintroduzidos na natureza, dessa vez no Atol de Palmyra, a 5.800 quilômetros de Guam, uma área protegida e livre de predadores que poderiam lhe representar ameaça.
Agora, equipes de preservação pretendem aumentar a população da espécie no Atol de Palmyra, soltando mais nove exemplares em ilhas próximas. O objetivo final é que o martim-pescador possa ser reintroduzido em sua terra natal.
3. Papagaio-Noturno

Desde o fim do século 19, pensou-se que o papagaio-noturno (Pezoporus occidentalis), uma pequena ave verde e amarela da Austrália, havia desaparecido para sempre. Mas para a surpresa de geral, o naturalista John Young descobriu uma pequena população da ave no sudoeste de Queensland, em 2013, o que finalmente permitiu que esforços de preservação do pássaro noturno fossem realizados.
Entre 2018 e 2023, equipes de pesquisa realizaram uma investigação detalhada na região em que os papagaios foram encontrados, e registraram a presença da ave em 17 dos 31 locais monitorados. Foi estimada a presença de entre 40 e 50 papagaios-noturnos, ao todo.
As autoridades agora tentam tomar medidas visando a segurança e a preservação da espécie, que incluem até mesmo o controle de outros animais que habitam a região. Por exemplo, os dingos — cães selvagens nativos da Austrália — são predadores e frequentes no habitat; mas também não podem ser completamente removidos, pois eles ajudam a controlar a presença de gatos selvagens, que também representariam ameaça para os papagaios.
4. Tubarão-de-saia

O tubarão-de-saia (Gogolia filewoodi) é considerado um dos mais raros do mundo, sendo descrito pela primeira vez só na década de 1970, a partir de um único exemplar, sem registros adicionais da espécie após isso. Foi só nos últimos anos, em 2020 e em 2022, que a espécie foi avistada novamente, na Papua-Nova Guiné, com a documentação de seis indivíduos (cinco fêmeas e um macho).
Até agora, pouco se sabe sobre a biologia do tubarão, exceto por algumas características físicas — como uma longa base da primeira nadadeira dorsal, que o distingue de outros tubarões de três presas —, o que o classifica como “deficiente em dados” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Segundo o Independent, os achados sugerem que a distribuição geográfica da espécie pode estar limitada a uma região em torno da Baía Astrolabe, na Papua-Nova Guiné.
5. Caracóis terrestres das Ilhas Desertas

Durante muito tempo, pensou-se que todos os caracóis terrestres das Ilhas Desertas, próximas à Ilha da Madeira, em Portugal, haviam desaparecido completamente, sem qualquer registro por mais de 100 anos. Foi só durante expedições realizadas entre 2012 e 2017 que conservacionistas encontraram uma pequena população de duas espécies de caracol (Discula lyelliana e Geomitra coronula), cada uma com menos de 200 indivíduos, em uma ilha isolada chamada Deserta Grande.
Para garantir a proteção destes moluscos, cerca de 60 indivíduos foram transportados para zoológicos no Reino Unido e na França, que ajudaram a fornecer as condições ideais de alimentação e vegetação para que eles se procriassem. Em cativeiro, os caracóis se multiplicaram, e geraram mais de 1.300 filhotes — que foram levados à ilha vizinha de Bugio, onde poderiam viver livres da ameaça de predadores.
6. Peixe-serra

Considerado extinto na região do Cabo Oriental, na África do Sul, há 26 anos, um exemplar do peixe-serra (Pristis microdon) foi encontrado recentemente, surpreendendo pesquisadores. O achado se deu através da carcaça do animal, que já estava morto, e apresentava sinais de que foi mordido por um predador. Embora o animal estivesse morto, a descoberta ainda foi razão de celebração, visto que indicou que a espécie não estava completamente extinta.
Frequentemente referidos como “metade motosserras”, devido ao formato característico do focinho serrilhado, os peixes-serras pertencem à mesma família das arraias. O membro, por sua vez, é um apêndice adaptado para capturar presas e escavar o fundo marinho. Vale mencionar que, embora esteja considerado extinto nas águas sul-africanas desde 1999, há registros da espécie em ambientes tropicais e subtropicais de todo o mundo, indo desde rios e lagos, até oceanos.

