Você sabia que muitas das frases mais famosas da história jamais foram ditas pelas figuras às quais são atribuídas?

A seguir, confira algumas figuras históricas que foram apontadas como autoras de discursos jamais pronunciados.

Dom Pedro II

Se eu não fora imperador, quisera ser mestre-escola. Nada conheço tão nobre como dirigir jovens inteligências, preparar os homens do futuro”.

Essa frase é atribuída a Dom Pedro II (1825–1891), o segundo e último imperador do Brasil. Mestre-escola, vale mencionar, era como eram chamados os professores do ensino primário, responsáveis pelo processo de alfabetização das crianças. No entanto, segundo o portal BBC News Brasil, essa fala jamais foi dita pelo monarca.

“Isso de ser mestre-escola, dizem que ele teria falado na França e que o Barão do Rio Branco [o diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior (1845-1912)] anotou”, prossegue o pesquisador. “Mas Dom Pedro mesmo nunca deixou isso registrado em lugar nenhum.”

Voltaire

A célebre máxima “Eu não concordo com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo” talvez seja a mais repetida entre todas as falsas citações. Serve perfeitamente como síntese da visão iluminista de Voltaire (1694–1778), mas não foi escrita nem dita por ele.

A verdadeira autora foi Evelyn Beatrice Hall (1868–1956), em 1906, no livro Os Amigos de Voltaire. A frase não passava de uma paráfrase livre de seu pensamento. Décadas depois, questionada, Hall admitiu: nunca quis sugerir que Voltaire tivesse usado aquelas palavras exatas. Ainda assim, a frase se cristalizou como se fosse do filósofo francês.

Dom Pedro I

Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto. Digam ao povo que fico!”.

Dificilmente algum brasileiro que passou pelas aulas de História escapou dessa frase, atribuída a Dom Pedro I (1798–1834) em 1822. Mas ela também é uma simplificação tardia.

O registro em ata da Câmara do Rio de Janeiro é muito mais longo e menos dramático. Nele, o príncipe afirma que permanecerá no Brasil porque sua presença interessa “ao bem de toda a nação portuguesa”, até que as Cortes e seu pai deliberassem sobre a questão. Nada de palavras de efeito; o famoso bordão foi invenção posterior, adaptada para caber em livros didáticos e narrativas nacionalistas.

Jesus

Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” está em três evangelhos canônicos: Mateus, Marcos e Lucas.

A célebre sentença teria sido a resposta de Jesus ao ser indagado sobre a legitimidade de pagar tributos aos romanos. Entre os cristãos, permanece até hoje como argumento de que é preciso respeitar tanto as leis quanto as autoridades terrenas.

O pesquisador observa que passagens semelhantes aparecem em evangelhos apócrifos, como os de Tomé e de Egerton. Uma análise detalhada leva, assim, à hipótese de que a formulação conhecida tenha sido elaborada posteriormente, possivelmente pelo próprio evangelista que a registrou. Apesar disso, o núcleo da mensagem — lidar com impostos e autoridade — parece autêntico, segundo Chevitarese.

Neil Armstrong

Quando Neil Armstrong (1930–2012) pisou na Lua, em 1969, o mundo inteiro ouviu: “Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”. O problema é que essa frase, da forma como ficou registrada, não faz sentido. Se é “para o homem”, então é também “para a humanidade”.

Maria Antonieta

Talvez nenhuma frase sintetize tão bem a imagem de insensibilidade aristocrática quanto o suposto conselho da rainha Maria Antonieta (1755–1793): “Se não têm pão, que comam brioches”. O detalhe é que ela nunca disse isso.

O filósofo Jean-Jacques Rousseau, em As Confissões, já havia registrado uma anedota semelhante décadas antes, quando Maria Antonieta ainda era criança. Ele falava de uma “grande princesa” sem nome, que teria reagido dessa forma à fome do povo. Com o tempo, a frase foi associada à rainha.

Isaac Newton

Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.”

Atribui-se a Isaac Newton (1643–1727) essa lição de humildade. É verdade que ele escreveu a frase — mas a ideia não era dele.

Newton a usou em uma carta a Robert Hook, mas já a conhecia de outras fontes. O mesmo raciocínio aparecia em A Anatomia da Melancolia (1621), de Robert Burton. “Pigmeus apoiados sobre ombros de gigantes veem mais do que os próprios gigantes”, dizia a frase, que, no entanto, também estava longe de ser original.

Como apontam os autores de They Never Said, existem formulações parecidas em textos do século 12 e até em escritos do século 6. Em outras palavras, assim como a própria metáfora sugere, sucessivas gerações de autores se apoiaram nos “gigantes” que vieram antes deles.

Luís XIV

“O Estado sou eu.” A frase é perfeita para ilustrar o absolutismo francês, tanto que se consolidou como recurso didático para explicar sobre o tema a estudantes ao redor do mundo. Entretanto, não há nenhuma evidência de que Luís XIV (1638–1715) a tenha pronunciado.

Como destacam os historiadores Boller e George, “não há evidência que ele tenha alguma vez feito isso, mas ele certamente acreditava nas palavras que lhe foram atribuídas.”