Os pesquisadores já haviam demonstrado, em estudos prévios, que andar de bicicleta traz benefícios para os pacientes com Parkinson. Pedalar diminui instantaneamente tremores, movimentos lentos e outros sintomas motores relacionados à doença. Essa nova pesquisa explica como isso acontece, explorando os mecanismos acionados no nosso cérebro em estado de repouso e durante a atividade física.
Para investigar o comportamento dos circuitos neurais em diferentes estados, o trabalho analisou a atividade elétrica cerebral de 24 adultos saudáveis.
A pesquisa
Inicialmente, os participantes permaneceram em repouso por 2 minutos em uma bicicleta ergométrica horizontal fixa. Em seguida, pedalaram continuamente pelo mesmo período de tempo. Durante essas atividades, os sinais elétricos emitidos pelo sistema nervoso foram captados e monitorados por 8 eletrodos fixados no couro cabeludo dos indivíduos. Os registros foram feitos tanto para os estados de olhos abertos como para olhos fechados.
A atividade cerebral registrada foi menor e mais organizada durante a prática de ciclismo, em especial com os olhos fechados, em comparação com o momento de repouso.
“Isso significa que há uma atividade cerebral organizada no ciclismo, que poucos circuitos neurais estão sendo utilizados. Ou seja, o cérebro está mais eficiente”, aponta John Fontenele Araújo, da UFRN, líder do estudo.
O pesquisador ainda destaca que, diferente do que acontece durante a pedalada, diversos circuitos nervosos permanecem ativos e trabalhando durante o repouso. “Pedalar é uma forma de ativar o cérebro de uma maneira organizada. Então, em algumas doenças neurológicas, isso faz bem para o cérebro”, nota Araújo.
A síncronia do pedalar
A redução na complexidade cerebral durante a pedalada pode estar relacionada com a própria natureza repetitiva da atividade. No artigo, os pesquisadores explicam que os movimentos constantes e os estímulos sensoriais causados pela prática, como a sensação das pernas se movendo, podem contribuir para uma sincronização dos impulsos nervosos, reduzindo o esforço cerebral para continuar o movimento.
Para ele, os padrões observados também podem ser encontrados durante a execução de outras atividades repetitivas, como a meditação e a reprodução de ações cíclicas e recorrentes no trabalho, e afetar as respostas do sistema nervoso de maneira semelhante.
“Os resultados sugerem que toda tarefa que exija concentração e que seja repetitiva leva a uma organização da atividade cerebral”, ressalta.
Os pesquisadores pretendem, agora, avaliar a complexidade e o padrão de sinais emitidos pelo cérebro em condições diferentes de pedalada. O objetivo é investigar possíveis diferenças entre modelos de bicicleta, ambientes de realidade virtual, atletas de alto desempenho e pacientes diagnosticados com condições neurodegenerativas, por exemplo.
Segundo Araújo, estudos centrados em pacientes com Parkinson já estão sendo realizados, visando contribuir para tratamentos mais eficientes e adaptados que preservem o controle motor durante a doença.
(Da Agência Bori)