Após um day use em 2002 no Cristalino Lodge, um resort em plena Floresta Amazônica mato-grossense, o pecuarista Fernão Prado foi convertido para aliar a produção de gado com turismo e conservação ambiental. Pode parecer ambíguo, mas este tem sido um caminho adotado por alguns proprietários rurais do Estado que perceberam o valor de suas reservas legais e florestas nas propriedades.
O turismo nas propriedades rurais tem sido uma cadeia econômica com efeitos positivos para Mato Grosso seja do ponto de vista ambiental quanto econômico. Casos como da Fazenda Anacã, em Alta Floresta, de propriedade de Fernão Prado é um exemplo da conciliação de da preservação, regeneração, turismo e pecuária com sustentabilidade.
“Eu não gosto de dizer que é uma pecuária sustentável, mas é uma pecuária responsável. Ainda temos que caminhar muito ainda para ser sustentável, mas estamos nessa busca. Dentro da propriedade, a gente recebe observadores de aves e de mamíferos de vários estados e de outros países. Recebemos muito público principalmente de Sinop, geralmente produtores rurais e com esse público que mostro que é possível produzir e conservar e busco convertê-los de que mais do que falar em números, essas ações de conservação são mais interessantes”.
A Fazenda Anacã tem cerca de 300 hectares, sendo 80 hectares da atividade agrícola e os outros 80%, totalizando 240 hectares, são de floresta em pé, onde ele desenvolve a atividade de turismo há cerca de 10 anos. Atualmente, a observação de aves na propriedade gera mais renda do que a pecuária.
“Quando eu comecei há dez anos, eu imaginei que eu demoraria uns 30 anos pra poder falar que o turismo estava dando mais dinheiro do que a pecuária, mas em 2023, o turismo já deu mais dinheiro do que a pecuária na fazenda. Eu mostro aos fazendeiros que vão lá que a conservação gera mais renda, gera mídia positiva e agrega valor para uma área que precisa ser preservada. Mostro fotos, números, pois quem não conhece, não ama e não cuida.
Outro fator importante destacado pelo pecuarista é de que não é necessário estar longe da cidade, próximo a rios para trabalhar o ecoturismo. A Fazenda Anacã, além de ser uma propriedade de 300 hectares, ela está ao lado do aeroporto de Alta Floresta, próxima à cidade.
Em 2016, Fernão investiu na recuperação das áreas degradadas, das matas ciliares, criou um corredor ecológico, e trilhas nas áreas de reflorestamento. Além disso foram mapeadas as espécies de aves e de mamíferos encontrados na propriedade, trabalho de educação ambiental junto as crianças e eventos de passarinhada gratuito.
“A minha fazenda é de pequeno porte em Alta Floresta e já catalogamos lá 340 espécies de aves. Eu recebo proprietários rurais com fazendas 20 vezes maiores do que a minha, áreas de reservas 30 vezes maiores. Aí eles saem do passeio encantados com a nossa propriedade, sendo que a diversidade nas áreas deles podem ser muito maiores, mas ainda não perceberam isso”.
Mato Grosso tem uma das maiores diversidades de aves do Brasil: são 50,11% das 1.808 espécies catalogadas pelo eBird no Brasil, um banco de dados mundial online de observações de aves que fornece aos cientistas, pesquisadores e naturalistas amadores dados em tempo real sobre a distribuição e a abundância de aves. Por este motivo, o Turismo de Observação de Vida Silvestre (TOVS) atrai turistas internacionais e nacionais ao Estado em busca de fotografar e catalogar aves silvestres.
O estado é conhecido como um dos principais hotspost, ou seja, áreas em que o observador de aves vai encontrar uma diversidade maior de espécies. O Cristalino Lodge, em Alta Floresta, e a Pousada Jardim da Amazônia, em São José do Rio Claro, estão entre os cinco do país nesta modalidade do turismo. Contudo, as áreas indígenas na Amazônia, Cerrado e Pantanal tem potencial de atrair esse público.
