Em Alto Coité (270 km ao Sul de Cuiabá), distrito garimpeiro no município de Poxoréu, as fazendas de soja se tornaram uma das principais fontes de renda das famílias.
O pequeno lugarejo ainda amarga pobreza por causa da corrida desenfreada pelo diamante.
Não alcançou status de centro urbanizado e continua carente de serviços básicos e infraestrutura, mas a rotina do povoado mudou.
Há pelo menos uma década, voltou a ter movimentação de trabalhadores saindo de casa cedo, antes do sol despontar no horizonte.
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O pequeno lugarejo ainda amarga pobreza por causa da corrida desenfreada pelo diamante
Agora, eles não caminham a pé com peneiras e outras ferramentas com destino aos garimpos.
Embarcam em ônibus rumo às propriedades que cultivam soja.
Lá, pela primeira vez em quase um século, os moradores têm um posto de estação rodoviária.
Antes, os passageiros embarcavam e desembarcavam ao relento, na via de entrada do lugarejo.
A unidade de Saúde também recebeu melhoria. Foi ampliada e reestrutura.
O antigo campinho de futebol ganhou novo gramado, alambrado e banco de reserva com cobertura.
Anexo ao campinho foram construídos parquinho infantil, quadra de vôlei de areia e academia ao ar livre.
Junto com essas e outras melhorias, veio a escultura do garimpeiro.
Paulo Sérgio é filho de garimpeiro. Na praça central, há uma escultura do garimpeiro
Fixada em ponto de destaque, está a poucos metros do padroeiro, Senhor Bom Jesus, disposto no altar da igreja.
A obra é similar à que existe há anos na praça central de Poxoréu.
Filho de garimpeiro, Paulo Sérgio Soares, 55 anos, diz que o distrito é o maior produtor de soja na área territorial de Poxoréu.
“Se fosse um município, toda plantação de soja estaria dentro de Alto Coité”, assinala.
Paulo Sérgio não fez referência clara, mas suas palavras remetem ao sonho de emancipação.
Por um pequeno período, existiu um movimento coletivo em defesa da emancipação do distrito,
Sem amparo legal e força política, perdeu força e se dissipou em 2018.
Desde então, não se discute organizadamente sobre o assunto.
Paulo Sérgio é filho de garimpeiro. Ele acredita que, se estivesse vivo, “seu” Nenza (todo garimpeiro tem um ou mais apelido) teria comemorado a chegada da soja.
Vicente Alves da Silva, Nenza, mais plantava do que garimpava.
Assim como muitos garimpeiros, ele tirava o sustento da família da roça de subsistência.
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No povoado, especialmente nas áreas próximas e no leito do Ribeirão Alto Coité, há marcas literalmente profundas da busca pelo diamante
Colhia milho, arroz, feijão, mandioca… Nenza sabia que não dava para confiar no garimpo.
O diamante não era garantia de comida à mesa todos os dias.
No povoado, especialmente nas áreas próximas e no leito do Ribeirão Alto Coité, há marcas literalmente profundas da busca pelo diamante.
Onde o solo foi escavado, imensas crateras se formaram, em torno das quais a vegetação não se recupera.
Tudo no entorno das imensas “catras” o que existe é cascalho lavado.
O que recuperou, capengando, foi o Ribeirão Alto Coité.
A mata ciliar do riacho é escassa, mas a textura e a qualidade da água são consideradas boas.
“É o lugar de lazer dos moradores e até de pessoas de municípios próximos, nos dias mais quentes e finais de semana”, conta Paulo Sérgio.
“A água é transparente, não tem mais a cor barrenta e o peso dos rejeitos da época do garimpo”, reafirma, em forma de celebração.
