Um vídeo tem chamado atenção nas redes sociais: um felino aparece em cima de um avião monomotor. 😯 Internautas compartilham e brincam com a situação: “Vôo atrasou, mas se eu contar a causa, ninguém vai acreditar, então resolvi filmar. Coisas de Mato Grosso“.
Mas será que foi mesmo em terras mato-grossenses? O Primeira Página abriu uma investigação (risos) e traz apenas verdades. (Veja o vídeo abaixo) Iniciamos essa reportagem já respondendo que não, até porque não se trata de uma onça-pintada no vídeo, e sim de um leopardo.
O avião em questão tem o símbolo da “Desert Air“, uma empresa de fretamento aéreo, com sede em Namíbia, país no sudoeste da África. Além disso, o vídeo não é recente e circula desde 2023.
Realmente, o leopardo e a onça-pintada são da mesma família, porém com diferenças marcantes. Para detalhar as características de cada um dos felinos, o Primeira Página conversou com o biólogo e guia de turismo Marcos Ardevino.
Onça x Leopardo 🐆
Vamos começar pela diferença geográfica.
- O leopardo é encontrado no continente africano e no asiático. É um animal que teve que se adaptar a expansão das cidades, como na Índia, por exemplo, e por isso é comum ver esses animais em áreas urbanas.
“Em alguns lugares, os leopardos usam essas comunidades para caçar cachorro, gato, animais domésticos em geral. Por causa da expansão populacional, esses bichos acabam sendo pressionados a usar os recursos que eles encontram nas cidades”, explica.
- Já o território original da onça-pintada, vai desde a região sul da América do Norte até a América do Sul, nas áreas tropicais, incluindo Argentina, Bolívia, Paraguai, com exceção de área muito frias. Mas as maiores populações estão dentro da Floresta Amazônica e Pantanal.
“A pressão da caça em algumas regiões, acabou limitando a distribuição dos bichos dentro do Brasil. A expansão da agricultura e pecuária são outros fatores que acabaram fragmentando essas populações, e levando algumas delas a serem geneticamente inviáveis, ao longo do tempo. Significa que existem muitas populações de onça-pintada que estão fragmentadas dentro do país e que a longo prazo tendem à extinção, porque não existe uma conexão entre esses ecossistemas mais”, detalha Marcos.
A falta de conexão entre os ecossistemas, que possibilite que populações diferentes de onças-pintadas se encontrem, impede que os animais façam o intercâmbio genético, que é importante para a manutenção das populações, e que consequentemente os tornam mais suscetíveis a doenças e síndromes genéticas.
Além disso, as onças-pintadas têm aparentemente pouca tolerância a atividades humanas, tornando mais difícil encontrarmos esses felinos em locais povoados. Seja com baixa ou alta densidade populacional, geralmente as onças evitam a presença humana.
Agora vamos para a diferença física
Ambas espécies são conhecidas por serem predadores natos, muito eficientes na caça, mas as diferenças físicas são evidentes.
- O leopardo é mais magro e esguio enquanto a onça-pintada é mais “parruda”, mais forte.
- As onças-pintadas chegam a pesar mais de 150 kg, enquanto os leopardos podem pesar cerca de 80 kg, ou seja, um macho adulto pesa quase metade do peso da outra espécie. Apesar dos leopardos serem felinos altos, eles não são tão grandes quanto as onças-pintadas.
A onça-pintada é considerada o terceiro maior felino do planeta, atrás apenas do tigre e do leão.
“As onças-pintadas do Pantanal, podem ser 45%, 50% maiores do que as onças que encontramos em florestas tropicais úmidas, como a floresta amazônica e a mata atlântica”, conta Marcos Ardevino.
O biólogo destaca uma característica ainda mais marcante: as pintas e as rosetas. Mas o que são exatamente? As pintas são cercadas por uma mancha mais larga, que são as chamadas rosetas.
- Os leopardos tem apenas as rosetas e geralmente, esses animais têm um tom mais claro de amarelo.
- Já na onça-pintada, é possível observar uma grande variação: existem indivíduos com um tom amarelo mais claro, ou até um amarelo mais dourado, mas o padrão da malha é sempre com as rosetas e pintas no meio delas. (Veja na imagem abaixo)
“Importante falar também que cada indivíduo tem um padrão de manchas diferentes. As pintas, ou esse conjunto de rosetas e pintas, são únicas, como as nossas impressões digitais. Então é possível identificar o indivíduo através de fotografias”, reforça o biólogo.
Outra diferença é com relação a força. A onça-pintada tem a mordida mais forte entre os felinos.
“É o único felino que desenvolveu a estratégia de, ou quebrar o crânio do animal, ou quebrar a base do crânio até a cervical. Geralmente os outros felinos matam por asfixia mordendo a garganta da presa e uma mordida bem potente também segura até a presa morrer por falta de oxigenação. A onça pintada pula na cabeça mesmo e ela tenta morder o crânio”, ressalta o biólogo e guia de turismo Marcos Ardevino.
