Em um mundo cada vez mais digital, os discos de vinil se recusam a cair no esquecimento. No Brasil, as vendas de vinis apresentaram um crescimento exponencial em 2023, superando pela primeira vez as vendas de CDs. De acordo com dados da Pró-Música, entidade que representa as maiores gravadoras do país, o faturamento com vinis atingiu R$ 11 milhões no ano passado, um aumento de 136% em relação a 2022. Já os CDs somaram R$ 5 milhões no mesmo período.
Mato Grosso segue essa tendência. Jorge Carlos Britto dos Santos, 61, tem uma coleção de mais de 5 mil discos de vinis e é dono de uma loja que vende discos, camisetas e acessórios, focado no rock.
“Eu não consigo quantificar o percentual de aumento nas vendas, mas como o mercado no Brasil aqueceu, Cuiabá também foi na onda”, avalia.
Santos, que adquiriu há quatro anos a antiga Sebo & Cia. e a rebatizou para Rock & Cia, afirma que seu público é bem variado. Tem as pessoas mais velhas, na faixa etária a partir dos 40 anos, mas também tem adolescentes e jovens. A procura também é por outros gêneros musicais como sertanejo, jazz, blues, valsa, pop, além do rock.
“A gente tem jovem de 25 anos, procurando discos por influência do pai, ou porque ganhou um disco de presente, escutou e se apaixonou pela qualidade sonora do disco Pelo prazer de você abrir um disco, olhar o encarte, onde tem as letras, ler quem produziu, quais foram os músicos que participaram na elaboração desse disco. Ainda tem umas capas que são praticamente uma obra de arte”, se entusiasma.
Priscilla Leventi, que junto com seu marido, Max Amorim, tem a loja Tcha por Discos há oito anos, concorda com Santos.
“Eu sempre falo que você comprar, ter a mídia física, pegar no vinil é como se você pudesse tocar a música, abraçá-la, senti-la mais profundamente. Você escuta a sequência que o artista fez pra você escutar a música, sabe? Não é igual um streaming que você escuta o álbum X de forma aleatória”, avalia Leventi.
Nos dois casos, embora exista uma procura por discos novos, a maioria dos clientes busca vinis usados, principalmente os de bandas e artistas que resistem ao tempo.
“Hoje em dia tem gente procurando desde música clássica, brega, músicas regionais, rock, pop, internacional, nacional. Muita gente estudando a música brasileira. Então a gente vende um pouco de tudo”, explica.
FENÔMENO MUNDIAL
O fenômeno se repete em outros países. Nos Estados Unidos, as vendas de vinil ultrapassaram as de CD em 2022 pela primeira vez em 35 anos. A tendência é global e indica um ressurgimento do interesse pelo formato analógico, que oferece uma experiência de audição única e autêntica, valorizada por muitos colecionadores e amantes da música.
Entre os fatores que têm estimulado a alta nas vendas estão a nostalgia e uma experiência de audição mais envolvente e imersiva. Valorizados pela raridade, apelo estético ou capas criativas que são, muitas vezes comparadas a obras de arte, também atrai muitos colecionadores. Tanto que existem duas datas dedicadas ao vinil. O Dia Nacional do Vinil é comemorado no dia 20 de abril, enquanto o Dia Internacional é comemorado em 12 de agosto.
“Vale lembrar que o Brasil ficou um período sem produção própria de discos, enquanto o resto do mundo continuou a produção. A prensagem de discos novos no país, mais acesso à informação e facilidade para comprar discos pela internet ajuda e fomenta a economia do vinil”, finaliza Leventi.
Para os amantes da música, o vinil representa uma forma de se conectar com a arte de forma mais profunda e autêntica. Em um mundo cada vez mais digitalizado, o disco de vinil se torna um símbolo de resistência e valorização da tradição.