Existem grandes obras que se perderam com o tempo, seja porque o arquivo não foi tratado corretamente, pegou fogo, algum pessoa pediu para que destruísse todas as cópias ou simplesmente o arquivo original passou de mãos em mãos e não se sabe onde está. Entre as várias produções perdidas está um tesouro argentino, chamado de El Apóstol.
Lançado em 1917, El Apóstol é considerado a primeira animação do mundo, antes mesmo da Disney lançar Oswald the Lucky Rabbit em 1927. O longa que utilizava técnicas de stop-motion, mas com papéis cortados, se perdeu em 1926 devido um incêndio.
A animação foi criada por Quirino Cristiani e Federico Valle, dois ítalo-argentinos, e levou cerca de 10 a 12 meses de produção até o produto final, um filme de em torno de 70 minutos. El Apóstol era uma sátira do presidente da Argentina na época, Hipólito Yrigoyen.
Veja a sinopse oficial:
“O presidente argentino Hipólito Yrigoyen sonha em subir ao Olimpo vestido de apóstolo. Ele fala com os deuses sobre os feitos e delitos dos portenhos, e como eles riem dele e de cada programa político que ele monta. Alguns congressistas aparecem e expressam suas posições. Yrigoyen discute com os deuses o nível de caos na administração da capital e a situação financeira do governo. Após a discussão, Yrigoyen pede a Zeus raios para limpar Buenos Aires da imoralidade e da corrupção. Zeus atende seu pedido; relâmpagos consomem os principais edifícios da cidade e Yrigoyen desperta.”
El Apóstol começou sua produção quando Valle contratou Cristiani, conhecido por suas infames caricaturas publicadas em jornais, e os dois fariam um curta intitulado “La intervención a la provincia de Buenos Aires” (A Intervenção da província de Buenos Aires), também sátira de um político, dessa vez Marcelino Ugarte. Depois do sucesso do curta, os dois começariam no que seria El Apóstol.
Depois de 12 meses e mais de 50 mil quadros, lá estava El Apóstol com 70 minutos de duração. O longa foi lançado em novembro de 1917, sendo um sucesso instantâneo e bem receptivo aos olhos da crítica, ainda mais sua cena final em que Buenos Aires é destruída. Após o lançamento, Valle e Cristiani foram para caminhos diferentes, isso se deu ao fato de que é reportado que Valle interferia demais no trabalho de Cristaini.
Eventualmente Cristiani trabalharia sozinho, criando os longas animados Peludópolis e Sin Dejar Rastros, ambos também consideradas animações perdidas depois de um incêndio começar na coleção de Cristiani, perdendo não somente os filmes como também trilha-sonora, making of, pôsteres e conteúdos promocionais e tudo relacionado aos longas.
Já El Apóstol estava guardado no estúdio de Valle, mas após um incêndio todas as cópias e a cópia mestre foram perdidas.
Hoje, trabalhos de Valle e Cristiani estão totalmente perdidas, não sabendo se alguma coisa restou dos dois. Tudo que se sabe de suas produções são de arquivos de filmes da Argentina e arquivos pessoais da família de Cristiani.
El Apóstol (e todas as obras de Cristiani e Valle), são um lembrete de quão necessário é preservar informações e produções que fazem parte de cada cultura, país e mundo inteiro. A internet facilitou imensamente essa parte importante, mas ainda sim há inúmeros outros arquivos que ainda precisam ser transformados em cópias digitais, já que por mais que se tente preservar rolos de filme, o tempo e as condições nas quais esses itens se encontram são cruéis.
