sexta-feira, 4 outubro 2024
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Um legado de humildade, fé e acolhimento

Neste artigo, quero destacar a figura de Maria José de Matos, nascida em 11 de abril de 1939, em Cuiabá. Desde os 14 anos, ela deu seus primeiros passos na mediunidade no Terreiro São Sebastião de Dona Moêmia, localizado no bairro Terceiro Velho. Conhecida carinhosamente como Vó Maria, fundou o Centro Espírita Pai Jeremias (CEPJ) em 8 de dezembro de 1978. Durante sua trajetória, dedicou-se incansavelmente à cura de almas até seus últimos dias, transmitindo com sabedoria e generosidade o verdadeiro significado de ser uma mãe de santo. Com amor, humildade e profundo respeito por todos que a procuravam, Vó Maria deixou um legado de fé e compaixão que continuará a inspirar gerações.

A vida de Vó Maria se desenrolou em um contexto histórico marcado por grandes transformações sociais e culturais. Ao longo de sua juventude, enfrentou desafios significativos, como o preconceito em relação à religiosidade afro-brasileira e a resistência à aceitação da Umbanda em uma sociedade que frequentemente marginalizava essas práticas. Aos 18 anos, já trabalhava com seus próprios guias. Sem a disponibilidade de livros que sistematizassem o conhecimento da Umbanda, Vó Maria assimilou os princípios diretamente de seus mestres, como o Caboclo Serra Negra, Guará e a Maria do Balaio. Este contato íntimo com as entidades moldou sua compreensão espiritual e lhe conferiu a capacidade de liderar e acolher com sabedoria, trazendo um novo significado à cura e ao serviço espiritual em uma época de profundas transformações.

Para Marcela do Nascimento, a Vó Maria transformou a vida dela tanto pessoal quanto emocionalmente. “Eu mesma conheci a Umbanda em 2009, mas ainda tinha um certo receio, porque crescemos com as pessoas dizendo que era uma religião ruim. Porém, ao conhecer a Vó Maria e os ensinamentos dela, pude ver que estamos errados quando dizem mal desta religião. Porque a Vó soube como ninguém me acolher e curar a minha alma”.

A humildade se manifesta de várias formas ao longo de nossas vidas, mas foi nas mãos de Vó Maria que conheci sua expressão mais genuína. O acolhimento dela transcende o plano físico, sendo um ato de amor e entrega, uma doação que vai além do ego e das vaidades do mundo moderno. Cada alma que cruzou seu caminho carregava uma história, uma dor ou uma busca. Com a serenidade de quem compreende os mistérios do invisível, ela acolheu centenas de filhos, filhas e consulentes, oferecendo a cada um, uma cura e conforto por meio de um coração aberto e de uma sabedoria silenciosa.

Vó Maria foi, acima de tudo, uma guia espiritual que, ao longo de sua jornada, auxiliou incontáveis almas. A cura que ela proporcionava não se restringia às palavras, mas se manifestava por meio de seu exemplo, presença serena e fé inabalável. Ao abrir os braços para acolher aqueles que a procuravam, oferecia um manto de proteção, canalizando forças espirituais que muitas vezes passavam despercebidas aos olhos leigos. Seu acolhimento não buscava reconhecimento ou aplausos, mas nascia de sua genuína vocação para servir, com o coração pleno de amor e dedicação.

A humildade foi o que definiu Vó Maria ao longo dos 85 anos de sua vida. Ela soube, como poucos, mostrar o verdadeiro significado da humildade no papel de uma mãe de santo, algo intrinsecamente ligado à capacidade de ouvir o chamado das entidades e agir com um coração desprovido de interesses pessoais. Cada vez que acendia uma vela, oferecia um copo d’água ou proferia uma oração, entregava-se completamente à espiritualidade, e é nessa entrega que a verdadeira cura se manifestava. Não se tratava de exibir poderes ou buscar a exaltação de sua posição, mas de compreender que seu papel era ser um instrumento divino, servindo com amor e devoção.

Ao longo de sua trajetória, Vó Maria não apenas curou feridas emocionais e espirituais, mas também ensinou o profundo valor da simplicidade. Em um mundo onde muitos buscam respostas rápidas e soluções imediatas, ela demonstrou que a verdadeira transformação nasce do silêncio, da introspecção e da conexão com o sagrado. Muitas vezes, a solução para os problemas não reside em rituais grandiosos, mas no gesto humilde de acolher uma alma cansada e guiá-la com amor no caminho da fé.

O trabalho de uma mãe de santo é, por essência, uma jornada de humildade. É saber que, por mais conhecimento ou experiência que se tenha, o poder maior vem do Alto, e a ela cabe apenas ser o canal dessa energia. Quando uma mãe de santo ajuda tantas almas ao longo da vida, o faz sem esperar nada em troca, pois compreende que o bem maior é coletivo e que seu papel é ser uma servidora da luz.

Assim como uma mãe cuida de seus filhos sem medir esforços, Vó Maria cuidou daqueles que chegavam ao terreiro em busca de conforto e orientação. Muitos vieram de outras casas, onde imperavam o ego e a vaidade. Porém, seu acolhimento era realizado com o coração aberto, oferecendo a firmeza necessária para guiar, mas também a ternura de quem entende que a espiritualidade exige paciência e dedicação. E é exatamente essa humildade que a tornou uma líder espiritual tão poderosa — seu poder não vinha da imposição, mas da capacidade de acolher e transformar com amor.

Em cada canto do terreiro, em cada oferenda e em cada oração, a humildade de Vó Maria resplandece. Ela é a personificação da sabedoria ancestral, do conhecimento transmitido de geração em geração, que continuará a guiar tantas almas, mesmo do plano espiritual. Que possamos carregar o aprendizado que ela nos deixou: não apenas a importância do acolhimento, mas também o valor de servir com o coração puro e desprovido de vaidades. Pois, no fim, a verdadeira cura está em reconhecer que somos todos parte de algo muito maior e que, na humildade, encontramos nossa maior força.

 

Soraya Medeiros é jornalista com mais de 22 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing.

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