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O grande motivo do fracasso

Por que o Brasil fracassa e continuará fracassando nos Jogos Olímpicos?

O problema não está na falta de talentos. Nem de dinheiro. Está na falta de inteligência. O Brasil é um celeiro de atletas com potencial extraordinário. Mas o que falta, de fato, são técnicos de alto nível, profissionais capazes de transformar esses talentos em campeões olímpicos. E essa deficiência tem raízes profundas, começando na formação desses técnicos.

As universidades brasileiras, que deveriam ser o berço do conhecimento e da excelência, têm falhado miseravelmente na formação de professores de educação física. Esses profissionais, que têm um papel crucial na detecção e desenvolvimento de atletas, na grande maioria dos casos saem da universidade sem a preparação adequada para enfrentar os desafios do esporte de alto rendimento.

É preciso entender que o papel do professor de educação física vai muito além de simplesmente orientar uma atividade esportiva. Ele é o primeiro a identificar um potencial atleta de ponta, muitas vezes ainda na infância. É ele quem deve direcionar a carreira desse jovem, desde a adolescência, escolhendo os esportes e modalidades mais adequados ao perfil físico e psicológico de cada um, e posteriormente orientar inclusive sobre o posicionamento estratégico desse atleta dentro do jogo.

Um mal nadador, por exemplo, pode ser um grande velocista dos 100 metros rasos. Ou um garoto ou garota que goste de judô talvez encontre seu maior talento na canoagem, no voleibol, ou no tênis. No futebol, assim como nos demais esportes coletivos, a função que o atleta vai desempenhar em campo, se lateral, zagueiro, atacante ou goleiro, será determinante para o futuro da carreira dele — que pode ir desde o naufrágio nas categorias de base, até o triunfo em um clube de alto nível.

Um bom técnico tem o feeling para dar esses direcionamentos. Um bom técnico sabe a hora de apertar e sabe hora de deixar fluir o talento. Sabe dosar disciplina e criatividade, requisitos fundamentais para o atleta de alto nível. Qual o melhor programa de treinamento e de nutrição, como lidar com os anseios da família do atleta adolescente? Um bom técnico sabe.

Além disso, cabe ao técnico encaminhar seu pupilo para treinar em clubes, ou até mesmo em países que possam oferecer a melhor estrutura e uma boa continuidade de carreira para ele, com equipamentos adequados e suporte necessário para seu desenvolvimento.

O Brasil tem uma tradição de grandes atletas que se transformaram em técnicos de referência, por exemplo, em esportes como voleibol e judô, modalidades que sempre beliscam uma medalha olímpica. A ginástica brasileira, por sua vez, passou por um divisor de águas depois da contratação, em 2013, do técnico russo Alexander Alexandrov.

César Cielo teve uma sensacional carreira olímpica escolhendo e absorvendo os conhecimentos de grandes técnicos brasileiros e estrangeiros — e treinando boa parte do tempo nos Estados Unidos, vitrine da natação mundial. Antes dele, Gustavo Borges já havia feito esse caminho, indo aprimorar seu talento em Michigan.

Gustavo Kuerten, de longe o tenista brasileiro de maior sucesso da história, devotava a maior parte de suas vitórias ao técnico Larri Passos. Os maiores sucessos no mundo do esporte são frutos de um sábio descobridor de talentos.

No país do futebol, de há muito nossos técnicos ficaram para trás, seja em termos de gestão de equipes, de identificação de talentos, de formas de jogar, etc. Não à toa, os clubes de maior sucesso no Brasil nos últimos anos, Palmeiras e Flamengo, têm ou tiveram técnicos portugueses na direção de seus times. Em 2013, foi um técnico português quem revolucionou o futebol do Botafogo, que só não foi campeão brasileiro porque ele saiu no meio do campeonato (a partir daí, o Botafogo trocou de técnico diversas vezes e enfrentou uma incrível decadência).

Ainda no futebol, temos incontáveis exemplos de talentos brasileiros que se aprimoram indo jogar na Europa. E exemplos também de jogadores que atuam maravilhosamente bem por seus clubes europeus e fracassam retumbantemente pela Seleção, que não consegue encontrar, entre brasileiros, um técnico à altura do serviço.

Raramente a sorte ou o milagre entram em jogo no esporte de alto nível. A inteligência é o principal catalisador de vitórias. No entanto, o que vemos nas universidades brasileiras é uma inversão de prioridades. Ao invés de formar profissionais capacitados, essas instituições têm se tornado centros de propagação de ideologias e doutrinas políticas de esquerda, deixando de lado o compromisso com a excelência acadêmica e profissional.

Esse cenário resulta em uma formação deficitária, que impacta diretamente a qualidade dos técnicos e, consequentemente, o desempenho dos atletas brasileiros em competições internacionais.

Essa falha estrutural na educação esportiva brasileira está no cerne da desinteligência esportiva que grassa em praticamente todos os esportes no país. O fracasso nas Olimpíadas não é, portanto, culpa dos atletas, mas sim de um sistema educacional que falha em preparar os profissionais que deveriam guiá-los ao sucesso.

Se o Brasil deseja realmente ser uma potência esportiva, é imperativo que as federações importem técnicos para qualificar os descobridores de talentos locais.

E que as universidades assumam seu papel de formadoras de excelência, abandonando o discurso ideológico e se concentrando na capacitação técnica e científica dos seus alunos. Só assim poderemos criar uma nova geração de técnicos e, consequentemente, de campeões olímpicos.

Em tempo: sem técnicos de alto nível, a ajuda governamental tardia, a atletas e equipes, às vésperas de uma grande competição, não passa de desperdício de dinheiro.

Em tempo 2: a cobertura imbecilizante de grande parte da mídia esportiva em nada ajuda o esporte brasileiro.

Orlando Morais é jornalista e diretor do LIVRE.

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