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Casal inova com técnica de manejo e cria 1ª vinícola de MT: sonho realizado

Luiz Cesar Oliveira e Rachel Molina iniciaram o cultivo em 2020 e se preparam para primeira safra comercial

Ao virar à direita na rodovia MT-251, no acesso à base da Aeronáutica, algum desavisado pode pensar que chegou ao Rio Grande do Sul rápido demais. O Vale da Bênção, que fica a 10 minutos do município de Chapada dos Guimarães (a 67 km de Cuiabá), guarda os primeiros parreirais de Mato Grosso. A estrada sinuosa e com muita mata no acostamento é a porta de entrada para os quatro hectares da vinícola Locanda do Vale. Com cinco anos de história, o empreendimento nasceu do sonho do casal Rachel Molina e Luiz Cesar Oliveira, os quais já eram apaixonados por vinho antes do amor para a união surgir. Após estudos e visitas a outras vinícolas, a descoberta de uma técnica especial fez com que o sonho pudesse ser concretizado no meio do Cerrado.

Casados há 22 anos, o casal conta que o vinho sempre esteve envolvido, desde a amizade. Rachel, cuiabana, conta que Luiz, paulista, quis fazer uma boa impressão ao presenteá-la com um vinho francês, por ser “mais delicado e leve, assim como ela”. No entanto, ele estaria bem equivocado.

“Era para lembrar uma característica dela. Mais leve, delicado, francês, da Borgonha, mas ela gostava de um português bem forte”, contou Luiz ao olhar para o sorriso de Rachel.

Rodinei Crescêncio
Vinhos Locanda

O casal de engenheiros, sendo Luiz agrônomo e Rachel civil, passou a esboçar a Locanda do Vale em seus pensamentos após várias visitas a vinícolas da América do Sul, com uma temporada especial no Uruguai, assim como em outras regiões da Europa. Em cada passeio, o desejo de produzir um vinho de qualidade de sua autoria aumentava. Inicialmente, a Locanda poderia nascer em qualquer lugar, mas a descoberta de uma técnica de manejo específica fez com que o olhar do casal se voltasse para o entorno de Cuiabá.

O vinhedo da Locanda é cultivado através de uma técnica chamada “dupla poda”. Este manejo consiste em podar a uva duas vezes para que ela fique madura durante o inverno do hemisfério sul. Assim como as tradicionais regiões vinícolas, como a Serra Gaúcha ou o Vale do Douro, em Portugal, as vinhas do Vale da Benção são podadas em agosto, mas de uma forma que elas não produzem uvas. A diferença da Locanda é que, ao invés de colher em fevereiro ou março, as vinhas são podadas novamente e são colhidas maduras em junho.

Rodinei Crescêncio

Vinhos Locanda

“A gente até cogitou se transferir de Cuiabá para uma outra região para produzir vinho. Mas, estudando, a gente tropeçou nessa técnica. Eu sou agrônomo, a Rachel é engenheira, a gente decidiu fazer e fomos estudar para fazer bem feito. A gente já tinha ido para outro país ver como era feito. Voltamos de lá com a decisão de fazer e de como faríamos”, disse Luiz.

Com o deslocamento da colheita da uva, o vinhedo fica exposto à melhor época de Chapada dos Guimarães, quando a amplitude térmica propicia um clima ameno, mas não frio. Com isso, as uvas ficam no mesmo patamar técnico de vinhos finos europeus.

O vinho da Locanda

A primeira sensação de deslumbramento se dá logo no abrir do portão de madeira que guarda a vinícola. Basta alguns passos para que as vinhas apareçam e preencham olhar. Sutilmente, a diversidade das espécies de uvas se revela na mudança de cor das folhagens nas parreiras. As diferenças são leves, mas cada aroma expressa um sentimento diferente.

Dentro dos quatro hectares de vinhedo da Locanda do Vale, existem sete tipos diferentes de uvas viníferas, sendo quatro delas tintas – Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Marselan e Syrah – e o restante branca – Sauvignon Blanc, Chenin Blanc e Viognier. O casal também cultiva pés da variação Isabel, que serve para sucos.

No processo longo de produção de um vinho, os aromas e sabores que a bebida pode manifestar dependem de vários fatores. Entretanto, o imaginário do casal sobre seus “filhos” já estava definido no amplo.

“O nosso pensamento é de produzir vinhos elegantes, não muito explosivos, nem muito alcóolicos. Clássicos, mais próximos do velho mundo. Fortificado sim, mas não extraído. Queremos um estilo mais europeu, um vinho mais delicado, mais elegante”, explicou Luiz.

Rodinei Crescêncio

Vinhos Locanda

Ao comprar um vinho e ler no rótulo que possui notas de frutas ou flores, não significa que há adição desses ingredientes na bebida. Os aromas de um vinho são adquiridos por meio de suas etapas. A sensação de frutas, por exemplo, advém do tipo de uva e suas características no momento da colheita – tamanho da baga, grossura da casca e textura da semente. Já aromas mais refinados, como baunilha e geleia, vêm do processo de fermentação.

Outros elementos que garantem a conquista de flavors desejados é o controle da temperatura durante a fermentação e o material onde o vinho envelhece. Ainda, níveis de acidez e dulçor requerem medições em laboratório.

Rodinei Crescêncio

Vinhos Locanda

Apesar de estudos garantirem certo padrão de acordo com o modo de manejo, o sabor final de uma safra só é descoberto ao abrir a primeira garrafa.

“A gente pode falar que precisa ter uma uva de muita boa qualidade no campo, tecnicamente, e extrair um vinho muito bom, mas algumas coisas são uma caixinha de surpresa e presentes. Esses aromas que a gente encontra, sejam primários, secundários ou terciários, é o terroir [fatores naturais e humanos que determinam a produção do vinho] que vai determinar. Eu posso até gostar de algumas coisas em um vinho, mas eu não sei se a minha uva vai expressar essa característica aqui”, explica Rachel.

Luiz e Rachel adquiriram a propriedade no Vale da Benção em 2019 e iniciaram o cultivo em agosto de 2020. Logo após, as safras vieram em poucas quantidades. De 2021 a 2023, a quantidade foi de 300 a 500 garrafas. Neste ano, o casal trabalha para a primeira safra comercial de vinhos tintos da variedade Syrah, com 1,2 mil garrafas.

Rodinei Crescêncio

Vinhos Locanda

Emoção em cada garrafa

Ao colocar uma garrafa de vinho em uma mesa de jantar, a ocasião já se torna mais especial. O vinho sempre é sinônimo de alegria e festa – sem descartar o tom romântico. Além de comercializar a bebida, a Locanda do Vale conta com opções de turismo no próprio vinhedo, com oportunidade para conhecer as parreiras e fazer uma degustação dos vinhos da casa. A experiência se dá como uma partilha da própria felicidade do casal com o empreendimento.

“A gente desce no vinhedo, prova cada uva e a pessoa sai daqui acreditando que era possível o nosso sonho. As pessoas ainda não acreditam que é possível, por isso precisamos que elas venham aqui e tenham essa experiência. É a pessoa vir aqui, passear, e quem recebe somos nós, o nosso filho”, afirmou Luiz.

Rodinei Crescêncio

Vinhos Locanda

Os pacotes de visitação vão de R$ 200 a R$ 450 por pessoa. Em geral, as experiências incluem um passeio pelo vinhedo, onde o visitante pode conhecer e provar as uvas direto do pé, e ter uma oportunidade harmonização em um piquenique ou jantar após o tour.

O objetivo da visita, segundo o casal, é que as pessoas consigam perceber um sonho que foi materializado. Isso acontece porque, em cada garrafa, o visitante prova o trabalho, a dedicação e o carinho nas podas manuais em cada vinha.

“O vinho realmente é muito ligado à emoção e ainda mais quando você faz a harmonização perfeita. Eu brinco que alguns dias a gente pede para alguns vinhos nos presentearem, até como uma questão de abraço. Isso a gente percebe muito com as pessoas que vem nos visitar. Materializar um sonho é trabalhoso, é difícil e tem uma carga emocional grande”, comentou Rachel.

Rodinei Crescêncio

Vinhos Locanda

A Locanda do Vale é o início de um possível vale do vinho em Mato Grosso. O casal de engenheiros já possui vizinhos cultivando as próprias uvas. Ansiosos, Luiz e Rachel aguardam as safras das outras uvas e já deixam a porteira da propriedade aberta para quem desejar saber mais do projeto, que não deixou de ter cara de sonho.

As reservas podem ser feitas através do site da vinícola.

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