(FOLHAPRESS) – Quase metade da população brasileira será obesa nos próximos vinte anos se forem mantidos os padrões atuais. O alerta é de um estudo nacional divulgado nesta quarta-feira (26), no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO 2024), em São Paulo.
Hoje, 56% têm obesidade ou sobrepeso, sendo a taxa de obesos de 34% e a de pessoas acima do peso de 22%. E se duas décadas soam para alguns como uma data distante, os autores reforçam que em apenas seis anos, já em 2030, a obesidade severa e o sobrepeso já devem atingir níveis recordes no Brasil.
O ICO, organizado pela World Obesity Federation (WOF) em parceria com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), vai até 29 de junho e traz os dados demográficos de saúde mais recentes sobre o tema.
Nilson e os demais autores afirmam no documento divulgado que “a carga epidemiológica e econômica do sobrepeso e da obesidade no Brasil aumentará significativamente”.
A recomendação do pesquisador é que o país implemente com celeridade “políticas robustas”, “incluindo o tratamento dos casos existentes e a prevenção do sobrepeso e da obesidade em todas as faixas etárias”.
Além de campanhas e foco nos casos atuais, é recomendado que o ambiente alimentar seja melhorado desde a primeira infância até a idade adulta “por meio de políticas regulatórias e fiscais que facilitem escolhas alimentares saudáveis”.
A questão, de acordo com Halpern, vai além da questão de saúde e entra no âmbito econômico, pois compromete o PIB (Produto Interno Bruto) com os custos gerados e reduz a longevidade da população ativa no mercado de trabalho. “Ainda existe um discurso geral de obesidade ser responsabilidade de cada um, mas a doença está totalmente associada a outros fatores, como consumo, aumento de desperdício e mudanças climáticas. E se a gente pensa em uma sociedade crescendo tecnologicamente e em riqueza, não se pode reduzir sua expectativa de vida”, destaca Halpern.
EPIDEMIA BRASILEIRA
A prevalência de obesidade no Brasil quase dobrou de 2006 a 2019, atingindo 20,3% da população adulta. Até 2030, as prevalências podem alcançar 68,1% para sobrepeso e obesidade combinados (29,6% para obesidade e 38,5% para sobrepeso).
Os grupos mais afetados serão os de mulheres, negros e outras etnias minoritárias. A estimativa de obesidade para mulheres nesse mesmo período é de 30,2% e sobrepeso de 37,7%, enquanto para os homens, é de 28,8% e sobrepeso de 39,7%.
Em relação ao tempo de estudo, entre os que têm mais anos de educação formal a obesidade deve chegar a 26,2% face 35,4% perante aqueles com menos formação educacional.
Embora a distribuição de novos casos entre homens e mulheres não seja significativamente diferente, estima-se que 64% (quase dois terços) das mortes atribuíveis estimadas durante este período serão entre os homens, grupo geralmente mais propensos a morrer prematuramente.
Das doenças atribuíveis ao excesso de peso, as mais preocupantes ainda são diabetes, representando mais de 51% dos novos casos, e as doenças cardiovasculares, com cerca de 57% das mortes até 2044.
INFÂNCIA COMPROMETIDA
Outra pesquisa apresentada no ICO 2024 revelou que, em duas décadas, a obesidade deve atingir 24% das crianças de 5 a 9 anos, 15% das de 10 a 14 anos e 12% dos adolescentes de 15 a 19 anos. O estudo é de Ana Carolina Rocha de Oliveira, do Instituto Desiderata, do Rio de Janeiro, e de Nilson, pela Fiocruz Brasília.
Os autores preveem que, se nada for feito, “a prevalência de obesidade infantil aumentará em todas as faixas etárias para ambos os sexos”, seguindo os padrões observados em grupos de estudo brasileiros de 1985 a 2019.
A porcentagem de meninos de 10 a 14 anos vivendo com obesidade aumentará de 7,9% para 17,6% e a de meninas, de 7,9% para 11,6%.
Na faixa etária de 15 a 19 anos o aumento previsto é de 8,6% para 12,4% entre garotos e de 7,6% para 11,0%, entre garotas. “Os resultados do estudo apoiam a necessidade urgente de políticas públicas para prevenir e tratar o sobrepeso e a obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS)”, destacaram os autores.
Para combater a situação, Bruno Halpern, presidente da Abeso, reforça que prevenção e tratamento precisam andar juntos. “Pais com obesidade têm mais chance de terem filhos com obesidade, independentemente da genética. E existem algumas mudanças nos genes que fazem com que a criança tenha mais risco, aumentando de geração em geração. Precisamos agir”, diz Halpern.