Outras contingências podem ser provocadas por ondas de calor extremo, como as que ocorreram no Estado de Mato Grosso em outubro do ano passado, quando a mídia noticiou várias ocorrências, problemas de falta de energia e transtornos devido a queima de transformadores de distribuição, por sobrecarga em função da elevação do consumo de energia elétrica.
A qualidade dos serviços de distribuição de energia elétrica no Brasil é medida por dois indicadores denominados DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora-Tempo que, em média, no período de observação, cada unidade consumidora ficou sem energia elétrica) e FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora – Número de interrupções ocorridas, em média, no período de observação, cada unidade consumidora ficou sem energia elétrica), apurados pela Agência Nacional de Energia Elétrica-ANEEL. Recentemente foram divulgados os indicadores DEC e FEC das empresas distribuidoras de energia elétrica do país pela ANEEL. Os consumidores no país ficaram 10,43 horas em média sem energia (DEC) em 2023. Quanto ao FEC, a frequência das interrupções ficou em 5,14 vezes.
Em eventos climáticos extremos, a falta de energia pode durar dias, o que certamente violaria os indicadores DEC e FEC das distribuidoras. Nestes casos, conforme a legislação atual, este tipo de evento pode ser expurgado dos indicadores, sem penalização para as empresas distribuidoras.
Os impactos no setor elétrico estão relacionados a vários aspectos nos segmentos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Na geração de energia, devido ao baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas em períodos de estiagem, a energia gerada reduz causando dificuldades na operação e atendimento à carga. Na transmissão de energia em função de tempestades e vendavais podem ocorrer queda de torres e rompimentos de cabos ocasionando dificuldades para se escoar a geração das usinas e também para se transportar e energia de uma região para outra, além da influência das queimadas de vegetação sob o caminhamento das instalações, provenientes de longos períodos secos, e também da ação humana. Na distribuição de energia muitas contingências na rede de distribuição estão relacionadas a curtos-circuitos provocadas por descargas atmosféricas, quedas de árvores e etc. Outras contingências podem ser provocadas por ondas de calor extremo, ocasionando problemas de falta de energia e transtornos devido a queima de transformadores de distribuição instalados nas redes de atendimento aos consumidores, por sobrecarga em função da elevação do consumo de energia elétrica. Podem ainda ocorrer problemas nas Subestações e nos locais atendidos por redes subterrâneas de energia ocasionados por inundações após períodos de chuvas intensas.
Para se aumentar a resiliência do setor elétrico frente aos impactos dos eventos climáticos, os sistemas de armazenamento de energia por baterias e de geração distribuída, poderão ter um papel importante para minimizar os problemas no fornecimento de energia elétrica provocados por redução de geração das hidrelétricas, danos nas linhas de transmissão ou mesmo danos nas redes de distribuição. No entanto, esta solução encontra-se em fase pouco avançada no setor elétrico nacional.
Este cenário de eventos climáticos extremos deve ser abordado nos novos contratos de concessão. Cerca de vinte distribuidoras no país que atendem cerca de 55 milhões de consumidores e cerca de 64% do mercado regulado de energia elétrica terão o término dos Contratos de Concessão entre 2025 e 2031, dentre elas se encontram: Enel SP, Enel RJ, Light, Energisa MT, EDP ES, Neonergia Elektro, Equatorial PA, CPFL Paulista, RGE Sul e outras. São concessões longas de trinta anos que merecem uma análise criteriosa considerando as novas realidades, inclusive de eventos climáticos extremos e outros desafios do mercado de energia elétrica.
No Brasil o sistema elétrico em muitas situações tanto a nível de transmissão quanto de distribuição é dotado de certa flexibilidade operacional que permite em várias situações suprir a carga através de linhas ou redes alternativas complementares, quando uma é afetada, considerando tratar-se de um sistema interligado. Porém, é preciso neste momento identificar e analisar as vulnerabilidades frente a eventos climáticos extremos (ondas de calor, tempestades, raios, ventos fortes, inundações, secas, incêndios, deslizamentos de terras dentre outros) e, implementar medidas que minimizem o impacto no setor elétrico e por conseguência a todos os usuários de energia elétrica do país.
Ressalta-se ainda que tem se observado ventos superiores a 130 km/h no Brasil sendo que o dimensionamento das estruturas é baseado em ventos de até 100 km/h. Esta nova realidade climática deixa bem claro a grande relevância da energia elétrica e tem duas consequências para o setor elétrico: Investimentos para mitigar os efeitos e investimentos para adaptação e resiliência com o estabelecimento de novos critérios de projeto, planejamento, operação e manutenção do sistema elétrico. Por fim, cada vez mais a população espera uma resposta à altura e adequada por parte das empresas do setor de energia elétrica do país.
Teomar Estevão Magri, Engenheiro Eletricista com MBA em Gestão de Negócios, Especialista e Consultor em Energia.